A garotinha Olívia tem dois pais e a curiosidade de saber como vai aprender a usar salto alto se não há uma mulher morando em sua casa.
Fernanda quer jogar futebol com um grupo de meninos, mas eles a rejeitam. Não entendem como uma menina pode praticar esse esporte.
Essas duas questões vêm de livros infantis e infanto-juvenis que abordam orientação sexual e gênero. A primeira vem de Olívia Tem Dois Papais, de Márcia Leite (Companhia das Letrinhas, 2010). A segunda, de Menina Não Entra, de Telma Guimarães Castro Andrade (Editora do Brasil, 2007).
A presença desses livros e dos assuntos que eles levantam na educação brasileira têm sido o centro de debates calorosos na sociedade.
Em recente votação, os vereadores de São Paulo decidiram que essas questões não devem ser abordadas na escola. Setores religiosos da sociedade – que têm usado o termo "ideologia de gênero" para se referir à ideia de incluir esse debate na educação – se manifestaram a favor da decisão.
Uma estudante de 12 anos, na sanção do plano municipal de educação, colocou o prefeito Fernando Haddad contra a parede ao dizer: "Existem famílias com dois pais, com duas mães e na minha escola eu convivo com muitas pessoas que são homossexuais e bissexuais. Então eu penso, por que omitir a palavra 'gênero' nas escolas se ele já é tão presente nas nossas vidas?"
"A educação na escola não concorre com a da família", explica a psicóloga socialMaria Sílvia Ribeiro, da PUC-SP. "Elas se complementam. Educação é responsabilidade do Estado e da família."
Segundo a especialista, a presença desses livros em sala de aula não implica apenas na discussão de preconceitos de gênero e orientação sexual, mas "principalmente no direito da criança ao conhecimento", diz.
"Crianças têm sexo e gênero. A sexualidade faz parte da vida e do corpo desde o nascimento. Crianças sabem fazer reflexão, questionar e se posicionar. É mais do que justo que elas possam discutir essas relações."
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